Mineiros vem mais em Mococa para fomentar economia do que para utilizar serviços públicos

Dados do IBGE desmentem fala do prefeito mocoquense de que os vizinhos “”vem em Mococa usar nossa saúde, nossa educação e nossa infraestrutura. “

Vista aérea de Arceburgo-MG. / Foto: Prefeitura Municipal de Arceburgo

Eduardo Barison usou as redes sociais para reclamar que municípios mineiros “vem em Mococa usar nossa saúde, nossa educação e nossa infraestrutura. Haverá ações”. Dados do REGIC* de 2018 mostram o contrário: municípios mineiros vem mais a Mococa para fomentar a economia do que para usufruir de serviços públicos, ao contrário dos municípios paulistas.

A pesquisa ainda aponta que 76,7% das viagens dos arceburguenses para compra de roupas e calçados tem como destino Mococa, bem como 71,7% dos deslocamentos para compra de móveis ou eletrodomésticos. Isso faz de Mococa o local mais procurado para nossos vizinhos utilizarem seu dinheiro fora de sua cidade.

Como bem lembrou o presidente da Câmara Municipal de Arceburgo, Reginaldo Carvalho (PL), o SUS é nacional, o que torna estranho falar em uso indevido do mesmo em outra cidade. É verdade que Mococa é o lugar onde mais procurado pelos vizinhos mineiros quando se trata de procedimentos baixa e média complexidade. No entanto, ao olhar para procedimentos complexos, é para Alfenas, e não Mococa, que os arceburguenses costumam ir.

Por outro lado, os dados mostram que não retribuímos a Arceburgo a confiança em nosso comércio: quando se trata de consumo de roupas, sapatos e eletro em geral, o destino mais procurado é Ribeirão Preto. Para atendimento em saúde de alta complexidade, vamos para um destino também procurado pelos nossos vizinhos: Barretos, referência em tratamento de câncer. No campo da educação superior, cada cidade costuma buscar oportunidades em seu estado natal.

A fala polêmica veio de uma reclamação do prefeito sobre guerra fiscal, que é a disputa entre estados para fornecer mais benefícios, como deixar dar descontos em impostos para que empresas ali se instalem. Porém, especialistas como o Doutor em Economia Ricardo Varsano, mostram que a reclamação por parte dos paulistas não faz sentido, já que somos, na maioria das vezes, os principais beneficiados.

“ao final, os vencedores da guerra são os estados financeiramente mais poderosos, capazes de suportar o ônus das renúncias e, ainda assim, assegurar razoáveis condições de produção”.

Ricardo Varsano

Após fala “infeliz”, mocoquenses se solidarizam com a vizinha Arceburgo

Reginaldo Fernandes Carvalho. Foto: Diário do Rio / Eduardo Barison, Foto: reprodução de vídeo de autoria do vereador Luiz Fernando dos Santos (PRB).

‘’Ele foi infeliz nas palavras dele. O SUS é nacional e quando Arceburgo manda alguém pra Santa Casa, a Prefeitura daqui paga a estadia desse paciente. Quando ele se refere que Arceburgo usufrui da infraestrutura de Mococa, qual seria essa infraestrutura, porque a cidade tá cheia de buracos (sic.). O prefeito de Mococa deve um pedido de desculpas aos arceburguenses’’,

Reginaldo Fernandes Carvalho (PL), presidente da Câmara Municipal de Arceburgo,

“Lamentável a atitude do prefeito de Mococa. Peço desculpas aos Arceburguences tudo mineirada gente boa!”, comentou um cidadão na matéria da página Mococa 24 horas sobre o assunto. Nesta mesma matéria, vários outros mocoquenses se manifestaram em repúdio a Barison e solidariedade a Arceburgo. Destaca-se a crítica de outra cidadã, que opina que ” o prefeito daqui não dá conta de cuidar nem da calçada dele”.

A tensão é inédita: as duas cidades vivem em regime de cooperação na economia e sem rusgas entre os políticos. Recentemente, Arceburgo vem sendo alvo de investimentos empresariais importantes. Já é sabido que a empresa Mocdrol sairá de Mococa e se instalará naquela cidade. Já é de Arceburgo uma empresa que tem laços políticos fortes com o atual prefeito: a Mclaw, dos Maziero, caciques do PSD em Mococa.

Declarações semelhantes à de Barison são utilizadas nos países europeus por ultra-nacionalistas, como pretexto para praticar atos de ódio e violência contra estrangeiros. Sob a reclamação de que os imigrantes estariam “roubando” empregos e vagas nos serviços públicos, imigrantes são discriminados e até mortos.

*Regiões de Influência das Cidades, pesquisa realizada pelo IBGE. O estudo “define a hierarquia dos centros urbanos brasileiros e delimita as regiões de influência a eles associados. É nessa pesquisa em que se identificam, por exemplo, as metrópoles e capitais regionais brasileiras e qual o alcance espacial da influência delas.”

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