Oftalmologista já foi subordinado à “capitã cloroquina”, em período onde tentou desacreditar o uso de máscaras.

Hélio Angotti Neto é médico oftalmologista. O atual Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde acaba de ficar famoso por assinar uma nota técnica que afirma, ao contrário da realidade, que a hidroxicloroquina é efetiva e segura contra a COVID-19 e as vacinas não. O documento ainda cita alto custo das vacinas em relação ao antimalárico.
O recado que tenta se dar é que as vacinas seriam ineficazes, caras e financiadas pela indústria, e a hidroxicloroquina eficaz, barata e sem financiamento externo, sendo as primeiras meras teimosias da comunidade médica para não adotar o tratamento com a última. É, longe de um parecer técnico, um panfleto ideológico. Autor e estudioso na área de bioética, já escreveu contra o que hoje pratica:
“a medicina, como ciência, deveria estar de fora de quaisquer tentativas de manipulação político-ideológica, que são sempre justificadas através de argumentações absurdas e totalmente anticientíficas”
(A Morte da Medicina, Hélio Angotti Neto)
O texto é um desejo antigo, que foi barrado pelo ex-ministro Eduardo Pazuello por prudência:
““Esse grupo tentou empurrar uma pseudo-nota técnica que nos colocaria em extrema vulnerabilidade, querendo que aquele medicamento, a partir dali, estivesse com critérios técnicos do ministério, e ele (o medicamento) não tinha”
(General Eduardo Pazuello, em vídeo)
A reação foi imediata: a Comissão de Incorporação de Tecnologias ao SUS (Conitec) – que já havia dado parecer contrário à hidroxicloroquina e demais medicamentos do chamado ‘kit covid’, bem como o Conselho Nacional de Saúde, repudiaram e pediram imediata revogação das portarias 1, 2, 3 e 4, publicadas no último dia 20.
Angotti é discípulo do astrólogo Olavo de Carvalho, e assumiu a secretaria de insumos após o empresário bolsonarista Carlos Wizard declinar do convite feito pelo presidente. Antes, trabalhava na Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), onde era subordinado à Mayra Pinheiro, vulgo “Capitã Cloroquina”.

Um dos principais articuladores do negacionismo dentro do ministério da saúde, o Olavista tentou convencer colegas de trabalho de que o uso de máscaras era ineficaz contra a COVID-19, citando estudo dinamarquês realizado em um período onde o país sequer enfrentava alta no número de casos ou mortes. Hélio leva para a medicina a hipótese de que haveria doutrinação ideológica influenciando e tirando o aspecto técnico das ciências, através de uma suposta dominação cultural encabeçada por órgãos de esquerda. A teoria conspiratória é a base do pensamento de bolsonaristas radicais, especialmente os ligados ao astrólogo.
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