Manchete espetaculosa do tipo “escândalo da realeza” fala da política educacional de um colégio

“ERRAMOS […] O príncipe Willian e a duquesa Kate Middleton pagam 18 mil libras por ano, e não por mês, para sua filha, a princesa Charlotte, estudar na Thoma’s School Battersea.”. Com essa notinha, um jornalista desesperado por manter seu condomínio e mensalidades da Smart Fit em dia se redime da empolgação em ver mais que os fatos na vida luxuosa dos descendentes da monarquia britânica. O espírito geral, porém, segue o mesmo.
O título “Princesa Charlotte é proibida de ter melhor amigo ou amiga na escola” lembra muito manchetes como “O dia em que é proibido sorrir na Coreia do Norte”. Nesse caso, a manchete da editoria de celebridades da Folha quer induzir o leitor ao clique fazendo crer que a tal proibição é uma das duras regras da rígida disciplina dos “sangue azul”. Morto de fome a ponto de caçar cliques na manchete, mas nem tanto a ponto de mentir no texto, temos que a tal proibição de melhores amigos sequer deveria estar na editoria de celebridades: é parte da filosofia educacional da School Battersea, colégio onde, por acaso, estuda a fofa Charlotte.

Já ganhamos, em 2022, um presente muito valioso: uma aula básica de mau jornalismo, de como não redigir uma manchete, de como não vender a própria alma em nome do click. Não é de hoje que a factualidade da manchete tornou-se objeto de negociata, em que alguns libertinos das letras simplesmente afrouxam as regras, saindo da redação e entrando no departamento de marketing.
“Basta ser juridicamente verdadeiro, não é necessário conduzir o leitor à verdade”, diria o guia do jornalista canalha, a ser lançado.
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