Matéria opinava sobre a bienal. O foco da crítica da doutoranda em teoria literária foi linguagem rebuscada e ‘adjetivos vazios’.

Acontece desde o dia 4 de Setembro a 34ª Bienal de arte de São Paulo, com o tema “Faz escuro mas eu canto”, verso de um poema do início da ditadura militar (1965), escrito por Thiago de Melo. Segundo a organização do evento, o objetivo desse ano é “reivindicar o direito à complexidade e à opacidade“. Sobre o tal “escuro” de que fala o tema, a curadoria explica a que se refere:
dos incêndios na Amazônia que escureceram o dia aos lutos e reclusões gerados pela pandemia, além das crises políticas, sociais, ambientais e econômicas que estavam em curso e ora se aprofundam. Ao longo desses meses de trabalho, rodeados por colapsos de toda ordem, nos perguntamos uma e outra vez quais formas de arte e de presença no mundo são agora possíveis e necessárias. Em tempos escuros, quais são os cantos que não podemos seguir sem ouvir, e sem cantar?
Jacopo Crivelli Visconti, Paulo Miyada, Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi, Ruth Estévez
Sob a linha-fina “algumas razões que fazem da grande exposição no Parque do Ibirapuera uma experiência transformadora” , saiu no Caderno 2 do Estado de São Paulo uma crítica. Uma das espectadoras da bienal e leitora do Estadão é Juliana Cunha, professora de escrita acadêmica da Fundação Getúlio Vargas e Doutoranda em Teoria Literária, que ao ler o texto de Leonel Kaz, ex-secretário de Cultura e Esportes do Estado do Rio de Janeiro, comentou em seu instagram:
“Ó, saca essa legenda do Estadão, tá numa matéria: Lugar de Fala, ponto. Tema passa de forma adequada nas tessituras dos artistas representados, ponto-vírgula; tudo ali está presente, vírgula, vibrátil, vírgula, sem ser óbvio, em forma de contraponto entre as obras. O que isso significa? Isso não significa nada.
Vim ler essa matéria porque fui na bienal semana passada – eu sempre vou nas bienais, mas não entendo nada de arte contemporânea. Achei essa a bienal mais fraca que eu já fui, só que essa matéria tá dizendo que essa é a melhor bienal de todos os tempos. Então eu queria saber porque essa bienal, que eu achei que foi a que menos me impressionou, é a melhor de todos os tempos, e o lugar certo para eu saber isso é o jornal, que é escrito, teoricamente, para o público leigo, para o público geral.
Quando eu abro o jornal e a matéria que deveria me explicar porque essa bienal – que eu, ignorante, achei qualquer nota – é maravilhosa, e essa matéria é qualquer nota – não dá pra entender a matéria, o que o jornalista está escrevendo – então na moral, só me faz achar que arte contemporânea não significa nada e que a bienal não significa nada.
Todo o objetivo de um jornal é escrever pro público em geral, escrever para todo mundo. O normal numa matéria de jornal é que uma pessoa que não sabe nada ou muito pouco sobre o assunto goste, entenda, ache elucidativa, e a pessoa que é mais especializada no assunto ache superficial, rasa, mas é isso: é porque não é pra ela, não é para um especialista.
Essa matéria, acho que não é pra ninguém, porque é um monte de adjetivos vazios. Me deixa muito chateada que o jornal, que é o lugar que deveria me explicar a bienal, gasta sua página com esse texto que não diz absolutamente nada.
Parabéns ao Leonel Kaz, editor e curador que escreveu essa crítica, parabéns ao editor do caderno 2, mas não deveria estar num jornal.”
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