Mulheres ganham menos bolsas de pesquisa, com menos remuneração e mais carga horária

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Dados referentes à bolsas por indicação mostram desigualdade de gênero, principalmente no programa de escolas militares de Bolsonaro.

Foto; Olabi Makerspace

No início de 2020, a pandemia ainda era vulto em nosso país. Tati Mazzo assustou-se com um termo no mínimo polêmico: “desde 1995 o ITA aceita a entrada de mulheres nos seus vestibulares”. 25 anos depois, realizava-se o primeiro evento da história do Instituto de Tecnológico de Aeronáutica, da UNIFESP,  a reunir massivamente mulheres. Ainda sob susto, surgiu em Tati, quase que ao mesmo tempo, uma ponta de esperança em ver mulheres engajadas a mudar esse cenário. Dentro do projeto Maré de Ciência, que trabalha as ciências do mar, ela e outras cientistas promovem a disseminação da ciência e o seu casamento entre as políticas públicas e a sociedade, tudo isso em alinhamento com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Recentemente, à pedido de Paulo Guedes, a ciência sofreu corte de 90% em seus recursos, R$690 milhões, o que tem potencial de ampliar desigualdades de gênero já enxergadas nas pesquisas:  mulheres são ainda minoria das bolsistas, ganham menos e possuem carga horária maior. Os dados foram obtidos através do  Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que tem como missão “Promover a competência, o desenvolvimento de recursos e a infraestrutura de informação em ciência e tecnologia para a produção, socialização e integração do conhecimento cientifico-tecnológico”.

O levantamento aponta que mulheres representam 47,3% das bolsas, enquanto homens possuem 52,3%. Eles ganham 0,4% a mais, enquanto elas possuem carga horária, em média, 0,2% maior. Os dados ganham mais clareza quando distribuímos a remuneração ao longo das horas dedicadas aos trabalhos:  mulheres ganham 61% do que recebem os homens: R$ 62,72/hora para eles e R$37,95 para eles. Todas as bolsas analisadas foram obtidas via “indicação do coordenador”.

Chama a atenção o recente programa que visa implementar as escolas militares no país (PECIM). Nele, o valor da hora é 3,7 maior para homens. Em valores absolutos, homens ganham, em média, R$316,17 por hora da carga horária, enquanto as mulheres recebem R$ 85,71. A diferença foi puxada principalmente pela carga horária, que dos homens costuma ser de 20 horas/mês, enquanto das mulheres chega a 70 horas/mês. O objetivo da bolsa é “desenvolvimento de metodologia de monitoramento e avaliação para a certificação das escolas participantes do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares – PECIM”

O PECIM também lidera em valor das bolsas, possuindo modalidade de R$ 7.000 mensais. Apenas uma das pesquisas possui financiamento mensal menor do que R$1.000, e é desenvolvido pelo “Ciência no Mar”, “para estruturação de proposta de Arquitetura de Informação e Visual para disseminação do programa”. Ao final da bolsa de R$800 mensais, o estudioso não chegará aos R$7.000 de um mês do PECIM – terão sido R$4.000.

O índice é calculado pela intersecção das médias de remuneração por hora e de quantidade de mulheres bolsistas. O zero absoluto indica igualdade numérica. Abaixo dele, desigualdade. Acima de zero, começamos a enxergar equidade de gênero.

Chegando ainda mais perto, veremos números que por mais positivos que sejam, não traduzem respeito: a bióloga cearense e professora universitária Gabriela Marques conta do cotidiano mansplanning: mesmo em pé de igualdade acadêmica, há a insistência dos homens em botar em questionamento os saberes, capacidades e experiências das profissionais. Gabriela submeteu recentemente um trabalho ao CNPQ, junto com pares da Universidade Estadual do Ceará, mas não está esperançosa: “se antes já seria difícil, agora [com os cortes] ficou impossível”. As mulheres da ciência concordam que os 90% a menos puxarão ainda mais a desigualdade de gênero presente nas estatísticas.

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