A história da primeira vereadora negra de uma cidade mineira converge com a história da construção negra do país e dos anos de repressão.

Serro é uma cidade mineira de 183 anos situada ao norte da capital, Belo Horizonte.De carro, leva cerca de 4 horas de BH até lá. A “Terra do Queijo” é um pouco menor que a também histórica Ouro Preto, e possui 20.966 habitantes segundo estimativa do IBGE feita 2019.
Como a maioria das cidades do Brasil, Serro foi construída pela mão escrava. Aqui, porém, há uma presença ilustre: a africana Jacinta de Siqueira, citada pelo antropólogo Gilberto Freyre como “tronco matriarcal” de diversas famílias do país, teve importante papel na fundação.
O país enfrentava a ditadura militar, sob o comando de Emílio Médici, quando algo inusitado acontecia: a primeira vereadora negra de Serro era eleita na Câmara Municipal em um contexto histórico e populacional marcado pelo racismo. Não bastasse, em 1971, após votação secreta dos pares, Maria Eremita de Souza era alçada ao posto de Presidenta da casa legislativa.
Professorae historiadora, Eremita era reconhecida pela polidez e capacidade de diálogo. Começou a trabalhar desde cedo na própria escola onde concluiu os estudos, como secretária. Seu primeiro contato com o legislativo local foi através de um convite do então Presidente do Legislativo, nomeando-a secretária. A capacidade para trabalhar a fez dobrar sua jornada, atuando simultaneamente como professora de português e escriturária de um importante empresário.
Maria Eremita de Souza, nascida em 1913 e falecida em 1930, dedicou sua vida a enfrentar a discriminação de uma sociedade patriarcal e racista que obrigou sua mãe, Donatila, a afastar-se da eucaristia por ser mãe solo, o que, segundo relata, a fez envergonhada por sua situação.
Em meio a anos de censura, Eremita soube ser singela e forte em seus gestos: sem explicar seus motivos na época, fechou o livro de posse deixado na Câmara até então e abriu um novo, escritode próprio punho. A ligação com os símbolos culturais a fez fundar, em 1973, a Casa de Cultura de Serro. Até hoje, nenhuma data dos marcos pioneiros de Maria Eremita de Souza são celebrados em Serro.
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