
Foi reexibido hoje, na sessão da tarde da Globo, o filme ‘à prova de fogo’, romance gospel. A trama centra no bombeiro Caleb, casado e viciado em pornografia.
O primeiro contato do espectador com o casal Caleb e Catherine ocorre em uma briga que termina em uma cena de violência psicológica. O homem chega a colocá-la contra a parede gritando, apontando dedo e com vigorosos movimentos de ameaça. Após isso, Cathe parece perceber o perigo que corre e anuncia pedir o divórcio.
O miolo do enredo chega quando o pai de Caleb, cristão convicto, apresenta um ‘desafio’ de 40 dias, com agrados à esposa, para que seja salvo o matrimônio. A ideia compactua com a vida real: após o climax no ciclo da violência doméstica, o agressor manipula a relação através de pedido de perdão, presentes e agrados, tudo para reaver a relação tóxica.
O final não poderia ser diferente: tocada pelos gestos encorajados pelo sogro, Catherine decide não romper o ciclo, continuando casada.
Tudo isso, claro é narrado de maneira bem diferente: Caleb é colocado na posição de protagonista, vítima da pornografia e da própria esposa retratada como insensível às flores e carinhos. Bem no meio, ocorre a conversão do bombeiro ao cristianismo, e tudo torna-se questão de manter um laço que, via de fé, jamais pode ser rompido – mesmo que um olho roxo apareça.
Um replay da cena de agressão nos últimos minutos desabaria toda a estrutura argumentativa de ‘À prova de fogo’. Vale lembrar que as mulheres nessa situação não são à prova de fogo, e denunciar se faz necessário, bem como procurar redes de apoio especializadas. A parte oculta depois do final do filme é que o comportamento violento retoma tão logo o status quo se estabilize.
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