
“Revirar o baú gigantesco do gênio tem todo um mistério e uma conexão com ele. Estava digitalizando as fitas analógicas que entraram em processo de oxidação e eis que escuto aquela voz, não tão grave como nos últimos anos e em outro idioma. […] Gostoso pra mim é que amo surpresas e administrar as obras de um artista desta magnitude é o melhor brinquedo que já inventaram. Faço meu pai renascer através dos musicais, biografia, músicas inéditas vindo do baú e isso sempre leva para um único lugar. Ele não morreu, está vivo e ao nosso lado” (Camelo Maia, filho de Tim)
Eis que, revirando os arquivos da gravadora Vitória Régia, uma surpresa: uma voz médio-grave, cantando em outro idioma, uma tal de Yo Te Amo: era Tim Maia nos surpreendendo, lançando moda 23 anos após sua morte. Além dela, versões inéditas de clássicos como Primavera, Azul da Cor do Mar, Gostava Tanto de Você, Risas, dentre outras, tudo em espanhol.
Faltou ar a Camelo Maia, e é mais do que compreensível: o balanço típico mistura-se com a forma chavônica do idioma (a música ‘Cristina’ celebra como nenhuma outra a fusão). Era o que faltava para tornar o cantor ainda mais viciante, dando aos ouvintes um pouco mais do hábito de ouvir mais de uma, duas e três vezes a mesma obra. O álbum Yo Te Amo é uma verdadeira celebração da cultura latino-americana, fundindo letra e discurso musical em originalidade orgulhosamente brasileira. Groove, rumba, funk soul… tudo o que de melhor há abaixo dos trópicos pode ser sentido ao correr das faixas.
O timbre é diferenciado, fruto de outra fase que merece destaque. O vibrato é acentuado, misturando-se com a extensão que já ensaia cair para ainda mais grave. Sente-se a garganta, o orgânico, o carnal do canto, como já é de praxe neste ícone da música nacional. Os arranjos são da qualidade já conhecida: ricos em instrumentação, porém leves, com bastante espaço para que a rítmica possa ‘bailar’ com o vocal. A faixa ‘Azul Color del Mar’ é a que mais escancara as especificidades da fase, bem como a versatilidade de uma voz que coordena com pulso firme toda a banda.
O premiado engenheiro de som André Dias foi o responsável por curar o achado, usando de complexas técnicas para restaurar partes perdidas e danificadas do manancial. Apesar do que este texto possa sugerir, o trabalho em cima das 9 faixas levou meses.

Ficha Técnica
Bateria: Tim Maia
Baixo Elétrico: Fininho
Percussão: Tim Maia
Violão de centro Tim Maia
Guitarra: Luiz “Meio Quilo”
Vibrafone: Cabeçote
Piano: e órgão Celio
Arranjos
Tim Maia
Vocal: Tim Maia, Mosquito, Soninha Terremoto , Cinara e Doria
Criação Musical Tim Maia
Coordenação e Produção: Tim Maia e Carmelo Maia
Restaurado e Masterizado por André Dias no Post Modern Mastering
Estúdios: Vitória Régia
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