Após interrupção, Cosme não sabe qual ‘notícia urgente’ chamar e quase volta à entrevista

Terça-Feira, 14 de Dezembro de 2021. Programa “Em pauta”
A GloboNews protagonizou um episódio que reforça a sombra de parcialidade que paira sob o conglomerado de Roberto Marinho desde sua fundação em plena ditadura. O âncora Marcelo Cosme interrompeu Fernando Luiz Abrucio, alegando que havia noticia urgente chegando. O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas falava, em tom elogioso, da economia durante os governos Lula. O problema surgiu em seguida: apesar de urgente, Cosme não sabia qual manchete chamar, o que gerou certa suspeita que povoou o Twitter.
A cena
FERNANDO: (sozinho na tela) Boa noite, Mônica. Eu acho que em relação a um candidato novidade, não acho que o eleitor tá fechado a isso, é que não tem nenhuma novidade que case com o que o eleitor quer.
O que o eleitor quer? Alguém que mostre que vai ter crescimento econômico, vai ter emprego, menos inflação, melhor educação, respeito às pessoas por conta da saúde… não tem ninguém com esse perfil, e é até interessante que a Simone Tebet com o pouquinho tempo que apareceu como candidata – você pega as qualitativas – houve uma imagem muito boa. Acho difícil ainda a candidatura dela porque ela não é completamente novidade, duvido que o partido apoie ela até o final. O MDB vai apoiar, nos 26 estados e Distrito Federal, candidatos vários no Brasil, é a natureza do MDB, mas não acho que está fechado.
O que eu acho é que há duas coisas que favorecem o ex-presidente Lula: primeiro, a lembrança do seu período. A piora da vida nos últimos 5/6 anos foi muito grande. Mônica, um pouco mais de 50% dos eleitores brasileiros (divide a tela com Mônica) são das classes D e E. Essas pessoas têm a memória do governo Lula. Acabou aquela discussão, antipetismo, esquece. (volta pro entrevistado) Elas colocaram filhos na faculdade, tinham emprego, tinham estabilidade de vida, (abre para imagem do estúdio) e essas coisas estão acabando, e é isso que favorece o Lula. E eu acho que uma segunda coisa que favorece bastante o Lula (volta para o entrevistado) é que ele conseguiu entender o discurso que a população mais pobre quer, (volta para o estúdio) então acho que essa é uma outra coisa importante (âncora sai do computador e se dirige ao meio do estúdio para interromper o entrevistado) que casa com a imagem que ele tinha no governo
COSME: Professor, muito obrigado, eu tenho que correr pra Brasília, que tem uma informação que acabou de chegar (Tarja é recolhida), mas agradeço muito a sua ajuda, viu? Um grande abraço e boa noite para o senhor.
Aqui é possível ver um gesto de Monica Waldvogel, autora da última pergunta, sugerindo não entender o ocorrido. Um outro internauta interpretou como sendo um “ainda bem que acabou”.
FERNANDO: Abraço, boa noite pra todos.
COSME: Desculpe interrompê-lo, mas a pauta é notícia que acabou de chegar (fecha no âncora): Jair Renan Bolsonaro… vamo voltar ao te… (fica a impressão de que tentou voltar à entrevista e é interrompido pelo ponto eletrônico) não? vamo… só um pouquinho gente, por favor (vai ao computador): o que é pra eu chamar aqui? é … tudo bem, vamo aqui então: Senado Federal acaba de decidir o nome que vai para o Tribunal de Contas da União [Antonio Anastasia]
Pelo, Twitter, a Mônica defendeu o corte:
“Parece que não adianta contar o que aconteceu se vocês, que não estavam no controle e no corte, acreditam na versão que construíram. O corte abrupto foi para que a repórter entrasse ao vivo com o resultado da votação para o TCU. Acontece mil vezes isso num canal de notícias.”
‘O melhor do Collor e o pior do Lula’
A desconfiança dos internautas em cima do episódio tem lastro histórico: logo na primeira eleição após ser promulgada a constituição de 1988, Lula e Collor receberam tratamento diferenciado por parte da TV Globo. Por orientação da familia Marinho, o Jornal Nacional editou o debate entre os candidatos de forma a privilegiar Collor, além de divulgar pesquisa de intenção de voto que havia sido produzida pela própria equipe do candidato. Houve também trabalho de imagem no cenário: Collor aparecia com diversos ‘documentos’ em sua bancada, colocados pela própria Globo, onde haviam nada mais do que papéis em branco. Suor falso também foi implementado no futuro presidente. Ao final, o extinto Departamento Nacional de Telecomunicações concluiu que Collor teve 78,55% mais tempo nos noticiários quando comparado a Lula. A Globo admitiu a manipulação apenas em 2011. Boni, ex-diretor geral, conta:
“Achei que estava desigual. Foi uma maneira de melhorar a postura do Collor”
“Em 1989 fui para o segundo turno; só não ganhei porque a Globo me roubou.”
Lula
Veja o artigo no Memória Globo sobre o erro da emissora nas eleições de 1989.
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