“Só comecei a colocar elementos brasileiros no flamenco quando aprendi mais sobre o flamenco.”

Mais do que um estilo, um universo totalmente diferente, inclusive nos termos técnicos: nada de ‘sol com sexta’, ou ‘lá com nona’, e muito ‘por arriba’ e ‘por médio’. Este é o flamenco, alvo da aula de Fernando de La Rua promovida ontem, 11, pela Pós-Graduação em Violão da Faculdade Santa Marcelina.
La Rua é de Itapevi-SP, mas reside em Espanha há 20 anos, onde é reconhecido por levar a influência brasileira para a guitarra castelhana. Renomado, chegou a tocar no portal de Brandemburgo na celebração dos 50 anos da União Europeia. Hoje, já se sentindo em casa, chega a botar elementos da técnica flamenca até mesmo em chorinhos.
A aula centrou nas tonalidades utilizadas no ‘modo flamenco’, baseado no modo grego frígio, com modificações importantes. Ao longo da conversa, La Rua deu detalhes de seu violão, feito de jacarandá e com tampa de abeto alemão. Lembra, porém, que o mais comum é a fabricação destes instrumentos em cipreste, ressaltando a importância de iniciar o aprendizado em um tradicional violão flamenco, para que seja sentido desde o início o ‘espírito’ do estilo.
O espírito é tão central que, para não perder nenhuma característica dos acordes tradicionais utilizados nas falsetas – ‘histórinhas’ melódico/harmônicas criadas no violão – é adotada a braçadeira, que pressiona todas as cordas em alguma casa, para que a tonalidade geral torne-se mais aguda.
Aliás, o instrumento também possui diferenças de construção, como o cavalete – suporte inferior das cordas, próximo à boca – mais baixo, para facilitar a leveza do toque. O especialista conta que ao contrário do que pensam, flamenco pede suavidade ao tocar, e não força…. para tocar, portanto, é preciso aprender a dedilhar relaxadamente, e quanto mais relaxado se toca, melhor.
Se já toca relaxado, ótimo, mas saiba que não é apenas isso: para desenvolver a coerência musical, é necessária imersão nos estilos de canto, recheados de melismas – sequência de notas musicais em cima de uma só sílaba – por conta da forte influência árabe.
“se pode fazer muita coisa sem mexer muito a mão, ótimo! Isso é flamenco!”
Fernando de La Rua
Explorar criativamente o violão é a chave, sempre valendo-se da ‘lei do menor esforço’, como o professor chama. Para ele, cordas soltas são o que dá o tempero mais do que especial, especialmente a ‘mizinha’ – corda mais aguda. A ideia é que, se é possível desenvolver dentro de uma sequência conservadora e sem muitas inovações, que assim seja. Na tonalidade ‘por médio’, por exemplo, os dedos anelar e mínimo ficam imóveis na imensa maioria do tempo, criando contraste com tudo o que os outros fazem em seu passeio pelas casas.
Os Palos (estilos) foram sendo criados e desenvolvidos a ponto de hoje termos canções tocadas ao piano, além da introdução de uma influência que atravessou o mar, vinda do Peru: o cajom.
O evento ocorreu pela plataforma zoom. O próximo, no dia 18, será Cleyton Fernandes, professor da Universidade Federal do Ceará, que fará apresentação sobre a construção de violões – madeiras, estilos e sonoridades. A senha para acesso é 744354.
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